sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Assombrações da mula-sem-cabeça

Revista de História da Biblioteca Nacional

“Burrinha-de-padre”, “mula preta”, “mula-sem-cabeça”. Os nomes variam de acordo com a região do Brasil, mas o significado é o mesmo: o castigo para a mulher que namora padre é transformar-se, nas noites de quinta para sexta-feira, em um animal medonho, de cascos afiados, que cospe fogo pelo pescoço e solta relinchos apavorantes. De origem ibérica, a lenda surgiu na Idade Média, por volta do século XII, quando as mulas eram usadas pelos padres como montarias. Dóceis e fisicamente próximas dos vigários, as “mulas-de-padre” passaram a designar as próprias mancebas. A Igreja, temendo o poder de sedução feminino, alimentava a crença na existência de maldições para as mulheres que desejassem o santo padre, fiel representante de Cristo na Terra. A lenda tem, portanto, uma explicação moral religiosa. O animal, que na imaginação popular galopa em desatino pela mata sem a cabeça, representaria a mulher que perdeu a razão e que apenas segue seus impulsos emocionais e sexuais. Se alguém suspeitar que está sendo perseguido por uma mula-sem-cabeça, deve deitar de bruços no chão, escondendo unhas e dentes, para não atrair a ira do bicho. Para quebrar o encantamento, é preciso que o padre, antes da celebração de cada missa, amaldiçoe a amante. Ou que um corajoso arranque o cabresto da fera. Alguém aí se arrisca?

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