quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

DESEJO.....


"Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar".
Poema de Victor Hugo.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A HISTORIA EM TOM DE POESIA - O MUNDO


Um Homem da aldeia Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus.
Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
- O mundo é isso - revelou -. Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossívelolhar para elessem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.

Eduardo Galeano - Livro dos abraços.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

A história em tom de poesia - Função da Arte


Diego não conhecia o mar. O pai Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
_ Me ajuda a olhar!

Eduardo Galeano - Livro dos Abraços

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O CORPO


"E este honesto ser, o eu - esse fala do corpo e quer, ainda, o corpo, mesmo quando faz poesia e sonha e esvoaça com as asas partidas.
Aprende a falar de forma cada vez mais honesta, o eu; e, quanto mais o aprende, tanto mais encontra palavras e gestos de respeito pelo corpo e pela terra" (Nietzsche, F. Zaratustra, Dos Transmudos)

Educação


"Eu sou corpo e alma - assim fala a criança. E por que não se deveria falar como as crianças?" (Nietzshe. Dos desprezadores do corpo)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Eça de Queiroz

Caricatura do funeral de Eça de Queirós
O funeral...
Grav., R. Bordalo Pinheiro
In A Paródia, Lisboa 1900, vol. 1, p. [292-293]
BN J. 1567 B.

Lá, na velha Sé, muralhas da espessura de côvados separavam da vida humana e natural: tudo era escuridão, melancolia, penitência, faces severas de imagens; nada do que faz a alegria do mundo ali entrava
O Crime do Padre Amaro, 1876

Leiria, vista da Sé - final do séc. XIX e começo do séc. XX
Portugal. Leiria. Sé
Postal ilustrado, s.d.
BN PI. 4195 P.

[...] o mundo que habita à sombra da Sé de Leiria seria uma estranha revelação de costumes e de sentimentos.
Carta a Ramalho Ortigão, 15 Mar. 1878

Leiria - 2ª metade do séc. XIX
Uma vista de Leiria: o mercado no campo de D. Luiz I
in O Ocidente, 1889, v. XII, p. 164
BN J. 3113 M.


Em redor da Praça as casas estavam já adormecidas: das lojas debaixo da Arcada saía a luz triste dos candeeiros de petróleo.
O Crime do Padre Amaro, 1876

Leiria, a praça - final do séc. XIX e começo do séc. XX
Leiria. Praça Rodrigues Lobo
Postal ilustrado, s.d.
BN PI. 5613 P.

Estou aqui há quase um mês. Deixem-me esconder pudicamente o que faço aqui.
Carta a Batalha Reis e Antero de Quental, Verão 1870

Leiria, margem do rio Lis
– final do séc. XIX – princípio do séc. XX
Portugal - Leiria – Margens do rio Lis
Postal ilustrado, ca. 1900
BN PI. 4193 P.

Imaginem-me aqui nesta terra melancólica, só, sem um livro, sem um dito, sem uma conversa, sem um paradoxo, sem uma teoria, sem um satanismo – estiolado, magro, cercado de regedores, e devorado de candidatos!
Carta a Batalha Reis e Antero de Quental, Verão 1870

Leiria, vista geral da cidade
– final do séc. XIX - princípio do séc. XX
Leiria – Vista da cidade e castello
Postal ilustrado, ca. 1900
BN PI. 1550 P.

Circunscrição administrativo de Leiria
Portugal – Districto de Leiria
Postal ilustrado, ca. 1900
BN PI. 2833 P.
Biblioteca Nacional

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

OS OSSOS


LUÍS MIGUEL NAVA
Um dia, ao acordar, deu por ter deixado todos os seus ossos num dos sonhos, do qual, como dum espelho, a carne e a roupa juntas irrompiam. Nunca mais desde então os pôde espetar na realidade, coisa que antes tanto se orgulhava de fazer. Talvez num cão fosse possível encontrar a necessária obstinação para os trazer de novo à superfície. Contudo, a tal profundidade os ossos estariam que, por muito que o animal escavasse, sob as suas patas, haveriam de romper as águas de mil rios, pedras, folhas, a enxurrada do universo e, embravecido, o próprio mar, mais tudo aquilo ainda de que habitualmente os sonhos se compõem, antes que deles se deixasse adivinhar o mais breve vestígio.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

MUNDO

Amplo e cada vez mais limitado
é uma realidade

O sol cria um espaço de luz
é dia

Nosso existir é projetado

retratado

classificado

vivido

é a existência

Somos visível

é o mundo dos Homens