A ventania
Assovia o vento dentro de mim. Estou despido. Dono de nada, dono de
ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a
contra-vento, e sou o vento que bate em minha cara.
Livro dos Abraços
Eduardo Galeano
Este blog tem por objetivo disponibilizar um pouco da cultura produzida nas diversas areas do conhecimento através da Literatura,Poesia, Cultura Popular,História, Geografia, Sociologia, Antropologia, Economia, Cinema, Artes, ciências, e afins. Será um desafio e um prazer compartilhar com outras pessoas minhas leituras. O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo. (Balzac)
O seu blog como sempre é show de bola! Já dei o meu voto!
ResponderExcluirMeu blog está concorrendo ao prêmio TopBlog 2010. Conto com o seu voto no link abaixo!
http://www.topblog.com.br/2010/index.php?pg=busca&c_b=116942
Abraços,
Prof. Adinalzir Pereira
http://saibahistoria.blogspot.com/
VENTO
ResponderExcluirMais que massa de ar em movimento é transparência que se desloca, é alma invisível que se move pressurosa. É fluido etéreo que passeia alegre sobre campinas verdes, escala montanhas, levanta poeira e varre desertos. Enfuna a vela do barco inocente que singra as águas mansas da lagoa azul; sustenta ave de papel colorido do garoto caçador de pipas; refresca o camponês solitário, concentrado no amanho da terra; cria ondulações regulares no pasto do gado preguiçoso. É imanente com traços de eterno; não pede passagem nem se desculpa; ultrapassa artefatos confeccionados pelo homem e tem personalidade (ou seria ventalidade?). Seguro de si, estável e presunçoso não respeita obstruções edificadas em seu caminho, a tudo acomete sem indulgência ou temor.
Se condições de umidade, pressão e temperatura lhe forem favoráveis, avoluma-se em massas compactas e espetaculares, as quais o homem nomeia furações, ciclones ou tufões, não importa. Colunas gigantescas e de extensões ciclópicas, deslocam-se com fúria avassaladora a centenas de quilômetros por hora erigindo, sobre a água, vagalhões mortais que danificam navios, afundam barcos mais frágeis e transformam o oceano de chumbo em cadeias de montanhas fluidas e fatais.
Na terra seca, avança sem se deter carregando adiante pontes, casas, carros e objetos de fabricação humana; como catadupa infernal, despeja zilhões de galões mortais, num átimo, em espaço mínimo; só respeita montanhas eternas, campinas e vales perenes, pois estes, construções sólidas da natureza, têm caráter permanente e feições que lhes são análogas. Impetuoso no grau máximo varre, literal e metaforicamente, vilas e cidades, mostrando ao homem soberbo sua descomunal potencia capaz de esmigalhar tudo e todos que se interponham no seu caminho, quase sempre errático.
Se o furacão espraia seu poder destruidor por amplo espaço geográfico e atua por tempo dilatado de vários dias, existe sua versão mais breve, porém muito mais aguda e percuciente, autêntico pacote de violência concentrada: o tornado. Verdadeira verruma colossal e impiedosa, em minutos, corta cicatrizes no flanco da terra, desgalha árvores centenárias, dizima florestas e destrói patrimônios. Causa danos materiais, tira vidas e modifica a paisagem, exibe-se como se fora saltimbanco de má índole, movido de furor assassino. Após tornar patente sua força descomunal, vai diluindo-se – consonante sua posição geográfica - em siroco, alíseo ou monção, sopros mais moderados que não causam maiores danos.
Já agora, tendo cumprido seu destino de força da natureza, atenua-se ainda mais e torna-se fraca brisa, viração, corrente branda de ar. Aragem que acaricia o cabelo da criança distraída na calçada; que eleva levemente a saia rosa da moça alegre que cruza a rua; que seca o suor do atleta que corre no parque; que empurra com suavidade o ciclista afogueado; que balouça com languidez a roupa colorida no varal doméstico; que ondula o trigal maduro na campina distante; que ampara a queda suave da folha outonal; que empurra nuvens de algodão rumo ao horizonte remoto; que sustenta a aeronave tranquila no céu cerúleo. Agora é amigo, é companheiro e camarada. Agora, sabe-se útil, precioso, vital, mais até, fundamental. Adentra, benfazejo, os pulmões e outros órgãos de todos os seres que respiram, e é primordial para sustentar a vida que a natureza criou.
Tem consciência plena que se não existisse, a vida no Planeta azul seria uma impossibilidade, a Terra seria uma rocha estéril e fria vagando solitária no espaço insondável. Vento que venta viçoso é vetor vital que vai levando vida ao vizinho vivente que vem e ao vetusto velhinho visionário. JAIR, Floripa, 02/10/09.