segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A HISTORIA EM TOM DE POESIA - O MUNDO


Um Homem da aldeia Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus.
Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.
- O mundo é isso - revelou -. Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossívelolhar para elessem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.

Eduardo Galeano - Livro dos abraços.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

A história em tom de poesia - Função da Arte


Diego não conhecia o mar. O pai Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.
Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
_ Me ajuda a olhar!

Eduardo Galeano - Livro dos Abraços

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O CORPO


"E este honesto ser, o eu - esse fala do corpo e quer, ainda, o corpo, mesmo quando faz poesia e sonha e esvoaça com as asas partidas.
Aprende a falar de forma cada vez mais honesta, o eu; e, quanto mais o aprende, tanto mais encontra palavras e gestos de respeito pelo corpo e pela terra" (Nietzsche, F. Zaratustra, Dos Transmudos)

Educação


"Eu sou corpo e alma - assim fala a criança. E por que não se deveria falar como as crianças?" (Nietzshe. Dos desprezadores do corpo)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Eça de Queiroz

Caricatura do funeral de Eça de Queirós
O funeral...
Grav., R. Bordalo Pinheiro
In A Paródia, Lisboa 1900, vol. 1, p. [292-293]
BN J. 1567 B.

Lá, na velha Sé, muralhas da espessura de côvados separavam da vida humana e natural: tudo era escuridão, melancolia, penitência, faces severas de imagens; nada do que faz a alegria do mundo ali entrava
O Crime do Padre Amaro, 1876

Leiria, vista da Sé - final do séc. XIX e começo do séc. XX
Portugal. Leiria. Sé
Postal ilustrado, s.d.
BN PI. 4195 P.

[...] o mundo que habita à sombra da Sé de Leiria seria uma estranha revelação de costumes e de sentimentos.
Carta a Ramalho Ortigão, 15 Mar. 1878

Leiria - 2ª metade do séc. XIX
Uma vista de Leiria: o mercado no campo de D. Luiz I
in O Ocidente, 1889, v. XII, p. 164
BN J. 3113 M.


Em redor da Praça as casas estavam já adormecidas: das lojas debaixo da Arcada saía a luz triste dos candeeiros de petróleo.
O Crime do Padre Amaro, 1876

Leiria, a praça - final do séc. XIX e começo do séc. XX
Leiria. Praça Rodrigues Lobo
Postal ilustrado, s.d.
BN PI. 5613 P.

Estou aqui há quase um mês. Deixem-me esconder pudicamente o que faço aqui.
Carta a Batalha Reis e Antero de Quental, Verão 1870

Leiria, margem do rio Lis
– final do séc. XIX – princípio do séc. XX
Portugal - Leiria – Margens do rio Lis
Postal ilustrado, ca. 1900
BN PI. 4193 P.

Imaginem-me aqui nesta terra melancólica, só, sem um livro, sem um dito, sem uma conversa, sem um paradoxo, sem uma teoria, sem um satanismo – estiolado, magro, cercado de regedores, e devorado de candidatos!
Carta a Batalha Reis e Antero de Quental, Verão 1870

Leiria, vista geral da cidade
– final do séc. XIX - princípio do séc. XX
Leiria – Vista da cidade e castello
Postal ilustrado, ca. 1900
BN PI. 1550 P.

Circunscrição administrativo de Leiria
Portugal – Districto de Leiria
Postal ilustrado, ca. 1900
BN PI. 2833 P.
Biblioteca Nacional

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

OS OSSOS


LUÍS MIGUEL NAVA
Um dia, ao acordar, deu por ter deixado todos os seus ossos num dos sonhos, do qual, como dum espelho, a carne e a roupa juntas irrompiam. Nunca mais desde então os pôde espetar na realidade, coisa que antes tanto se orgulhava de fazer. Talvez num cão fosse possível encontrar a necessária obstinação para os trazer de novo à superfície. Contudo, a tal profundidade os ossos estariam que, por muito que o animal escavasse, sob as suas patas, haveriam de romper as águas de mil rios, pedras, folhas, a enxurrada do universo e, embravecido, o próprio mar, mais tudo aquilo ainda de que habitualmente os sonhos se compõem, antes que deles se deixasse adivinhar o mais breve vestígio.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

MUNDO

Amplo e cada vez mais limitado
é uma realidade

O sol cria um espaço de luz
é dia

Nosso existir é projetado

retratado

classificado

vivido

é a existência

Somos visível

é o mundo dos Homens