sexta-feira, 4 de junho de 2010

O ar e o vento


O ar e o vento
Pelos caminhos vou, como o burrinho de São Fernando, um pouquinho a
pé e outro pouquinho andando. Às vezes me reconheço nos demais. Me reconheço
nos que ficarão, nos amigos abrigos, loucos lindos de justiça e bichos voadores da
beleza e demais vadios e mal cuidados que andam por aí e que por aí continuarão,
como continuarão as estrelas da noite e as ondas do mar. Então, quando me
reconheço neles, eu sou ar aprendendo a saber-me continuado no vento.
Acho que foi Vallejo, César Vallejo, que disse que às vezes o vento muda
de ar.
Quando eu já não estiver, o vento estará, continuará estando
.
Livro dos Abraços
Eduardo Galeano

A ventania



A ventania
Assovia o vento dentro de mim. Estou despido. Dono de nada, dono de
ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a
contra-vento, e sou o vento que bate em minha cara.


Livro dos Abraços
Eduardo Galeano